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A nova Praça do Estudante

Quando recebi o pedido de um projeto para a Praça do Estudante sabia que não seria um assunto comum. Tratava-se da renovação de um espaço bastante visível, ponto de passagem para boa parte da população da nossa cidade. De modo geral, projetar espaços públicos não é uma tarefa simples. Cada indivíduo percebe a cidade e faz uso dela de um modo distinto. Além disso, um projeto é sempre uma visão particular sobre algum tema. Esse foi o maior desafio ao elaborar uma proposta para a Praça do Estudante: como aliar nossa visão particular de cidade e de espaço público à visão de toda uma sociedade com valores possivelmente divergentes?
 
Decidimos pensar numa cidade que tem orgulho de seu passado, mas que olha para o futuro em busca de novas formas de expressão. O projeto é assinado pela minha empresa, Thiago Mondini Arquitetura, e a equipe de trabalho foi composta por mim, Thiago Mondini, arquiteto, a arquiteta Carolina Nunes como co-autora e os estagiários nos dando suporte.
 
Antes de tudo tínhamos que lidar com a existência da estação elevatória, que muitos confundem com uma estação de tratamento. Na verdade não há tratamento nenhum ali. Trata-se de um sistema de bombeamento para que o esgoto chegue até a estação, que fica no bairro Fortaleza. Transformamos essa elevatória em uma escultura, utilizando chapas em aço patinável (espécie de aço que cria uma camada de óxido na superfície) inclinadas em diferentes ângulos. Entre essas chapas ainda crescerão trepadeiras. O conjunto vai virar um bonito jardim vertical.
 


Precisávamos ligar de alguma forma essa estrutura à estátua do estudante, que dá nome à praça. A partir dessa necessidade, começamos a traçar linhas conectando a elevatória aos principais pontos do local: a estátua, as faixas de pedestres, as árvores existentes, entre outros. No final, tínhamos em nossas mãos um papel cheio de linhas retas e gostamos da possibilidade de utilizá-las para valorizar os elementos. Também achamos importante preservar alguns caminhos. Então mantivemos uma ligação entre as duas faixas de pedestre da rua Almirante Tamandaré, criando uma espécie de passeio elevado em concreto. Também mantivemos uma ligação direta entre as extremidades da praça (ela é triangular) e o centro, de modo que se possa chegar a qualquer lugar a partir de qualquer ponto. Isso evita a má utilização dos espaços e motiva o público a passear pelo local.
 
As linhas retas formaram superfícies que poderiam virar canteiros, gramados ou áreas pavimentadas. Então começamos o processo de escolha de materiais e soluções. Para a vegetação, queríamos espécies predominantemente nativas, para valorizar a flora local. Infelizmente não foi possível trabalhar somente com essas espécies, pois temos também que lidar com o que está disponível nos viveiros. Mas conseguimos utilizar plantas frutíferas (araçá, pitanga e physalis) e aromáticas (jasmins). Ou seja, as pessoas não vão apenas vivenciar a praça pelo olhar, mas também pelo paladar e pelo olfato. Para as muretas, com suas linhas retas, queríamos um material rústico, como forma de criar um contraste entre a precisão da linha e a imprecisão da sua construção. Optamos por pedras brutas, extraídas de pedreiras locais, assentadas sobre camadas de cimento sem acabamento. O cimento que escorreu entre as pedras não foi removido e permanece como uma marca ou memória de sua execução. Nos pisos, utilizamos paver drenante, que é um tipo de bloco de concreto que não impermeabiliza as superfícies - portanto temos uma praça quase totalmente permeável à água. Isso, além de evitar a formação de poças, também ameniza possíveis enxurradas, pois a água é absorvida pelo piso antes de chegar à rua. Algumas áreas foram mantidas com areia, a pedido da prefeitura. São áreas destinadas ao playground e aos equipamentos de exercício.

 
Um pergolado foi projetado para garantir um espaço de sombra nessa cidade tão quente e carente de espaços em que se possa sentar ao ar livre sem que o sol nos castigue no verão. Sobre ele crescerão jasmins e uma bougainvillea (primavera). Dispusemos bancos em concreto e algumas pedras grandes, brutas, que também podem ser usadas como bancos. Boa parte das muretas também foi projetada numa altura que é conveniente para que uma pessoa possa sentar-se com conforto. Desta forma, é possível usar a praça das mais variadas formas.
 

 
Enfim, como já dissemos, queríamos uma praça que olhasse para o futuro e evitasse repetir a fórmula baseada na arquitetura tradicional germânica, mas queríamos também uma praça que fosse humana e acolhesse a população. Acreditamos no espaço público como manifestação da cultura de uma sociedade e procuramos dar à cidade o que acreditamos ser o melhor para aquele espaço numa linguagem coerente com o momento em que vivemos, dentro das limitações físicas e financeiras a que todo projeto precisa se adequar. Esperamos que essa praça inspire intervenções em outros pontos da cidade, para que nossos espaços públicos sejam cada vez mais utilizados por seus verdadeiros donos: todos nós.


 


Texto por: Thiago Mondini


Thiago Mondini, arquiteto e urbanista natural de Blumenau, atua na cidade desde 2007. Seu escritório desenvolve projetos arquitetônicos, de interiores e urbanísticos. Conhecido por preferir idéias que sejam fora do comum e por suas atividades ligadas às artes (também é pianista), tem como principal característica a busca por soluções que dêem personalidade a seus projetos.